O Jogo Virou: Como a IA saiu dos video games e hoje é parte do nosso dia a dia
O que AlphaGo e The Thinking Game ensinam sobre o futuro dos negócios, das decisões e da vida em um mundo transformado pela Inteligência Artificial
Em 2017, quando assisti a “AlphaGo” assim que foi lançado, tive aquela sensação de estar vendo algo que ainda levaria tempo para o mundo entender.
Enquanto muitos ainda enxergavam IA como um experimento distante, eu já começava a mergulhar em projetos que exploravam exatamente aquelas fronteiras, bem antes do hype, antes da avalanche de novos “especialistas”, antes da IA virar manchete diária.
Meu mestrado em 2004, por exemplo, foi sobre segurança e privacidade em computação pervasiva. Na época, parte da revisão bibliográfica foi voltada à legislação que ainda engatinhava para delimitar o uso abundante de dados que temos hoje em todos os sistemas.
O documentário mostrava a DeepMind enfrentando o desafio quase mítico de vencer um mestre humano no Go, um jogo que simboliza complexidade há séculos. Mas, para além da disputa, havia ali uma mudança mais profunda: a percepção de que as máquinas estavam cruzando um limite que antes parecia ser exclusivamente nosso.
Enquanto assistia, ficou claro que aquela partida não era apenas sobre quem venceria, mas sobre o que isso significaria para o futuro.
Anos depois, ontem, assisti a “The Thinking Game”, que relata o avanço do time da DeepMind. E a sensação foi outra: a de acompanhar o capítulo seguinte de uma história que deixamos de assistir à distância.
Se “AlphaGo” era o despertar, “The Thinking Game” é o amadurecimento.
A disputa saiu do tabuleiro e entrou no cotidiano, nas empresas, na ciência, nos bastidores das decisões e até no nosso imaginário. A IA deixou de ser promessa para se tornar infraestrutura invisível — influenciando desde diagnósticos até modelos de negócio.
O hiato entre os dois filmes é, por si só, uma narrativa sobre o crescimento exponencial da tecnologia (e, por isso, recomendo que assista a ambos).
Saímos da tensão homem-vs-máquina para um cenário em que a colaboração e a cocriação entre humanos e algoritmos deixam de ser exceção e passam a ser competência obrigatória.
E é justamente nessa época do ano que costumo conversar com muitos líderes sobre aprendizados, entregas e direcionamentos. Não apenas para revisitar o que foi feito, mas também para projetar o que vem pela frente.
Ajudá-los a criar exercícios de visão, estratégia e preparação para um futuro em que a adaptação rápida deixou de ser um diferencial — virou condição de sobrevivência.
Roger Martin faz uma distinção importante: a estratégia é a escolha e o direcionamento; o plano é a execução adaptável. E esse entendimento nunca foi tão essencial quanto agora, quando a própria IA encurta ciclos e transforma premissas em questão de meses.
Se “AlphaGo” marcou o despertar da IA, “The Thinking Game” revela que ela já está moldando o mundo real. E é o que tenho feito com muitos clientes neste período em que estamos em meio a tanta complexidade: dar um passo atrás e olhar com clareza o que aconteceu e desenhar o que podemos fazer para adaptarmos completamente nossos negócios.


